Denis Zanin
Denis Zanin

entre ensaios e hiatos, um blog pessoal que aborda textos sobre jornalismo digital, segurança e privacidade na Internet; literatura, fotografia, política, etc. são alguns dos outros temas abordados.

Denis Zanin, 37, é programador e jornalista, especializado em segurança, jornalismo digital e privacidade na Internet. Literatura, cinema e fotografia estão também entre seus escritos favoritos.

Compartilhar


Tags


Denis Zanin

Configurando Split SSH no Qubes 4

Depois de muitos e muitos problemas na tentativa de uso do Split SSH no Qubes 4, por fim consegui resolver os problemas e neste texto registro como configurar o sistema. Sem dores de cabeça e sem problemas (assim espero!).

Introdução

O Split SSH é um conceito aplicado ao sistema operacional Qubes, parecido com o Split GPG, introduzido e descrito na documentação oficial[1] do sistema. O modelo de segurança consiste em separar a(s) chave(s) privada(s) do ambiente onde será utilizada, com isso, caso o ambiente seja comprometido, a chave GPG (ou SSH) não será afetada.

Na documentação oficial, encontrei e traduzi o parágrafo seguinte que explica melhor o conceito da divisão:

Split GPG implementa um conceito similar em se ter um smartcard com suas chaves GPG privadas, só que a função do smartcard fica a cargo de outro AppVM (domínio) do Qubes. Dessa forma, um domínio não-muito-confiável, como onde o Thunderbird está sendo executado [suscetível a ataques], por exemplo, poderá delegar funções, como encriptar/decriptar/assinar [e-mails] , para outro domínio mais confiável, isolado e sem conexão de Internet. Desta forma o comprometimento do domínio onde o Thunderbird (ou outro aplicativo) está rodando - sendo este um cenário possível e provável - não permite que o "malfeitor" roube suas chaves secretas. (Nós devemos fazer um comentário um tanto óbvio aqui que, as senhas das chaves privadas são "inúteis", pois um ataque pode instalar facilmente uma backdoor simples que aguarda até o usuário digitar sua senha e então roubá-la junto de sua chave.) [2]

O mesmo conceito aplica-se ao Split SSH: as chaves públicas e privadas encontram-se armazenadas e configuradas num domínio para o SSH, isolado e sem conexão a Internet; outro domínio, com acesso a Internet, acessará o VM (domínio) que está isolado com as chaves. Esta técnica/hack foi proposta por Jason Hennessey, @henn, no projeto qubes-app-split-ssh [3]. A conexão será feita por um socket local (criado pelo ssh-agent de cada domínio) comunicando-se pelo framework do Qubes.

Isto é feito pela utilização do qrexec framework do Qubes para conectar o socket local do SSH Agent de um AppVM ao socket do SSH Agent de dentro do VM secreto. [4]

A diferença entre o Split GPG e Split SSH dá-se na forma de implementar e configurar o sistema, sendo que o Split GPG é nativo, fácil e configurável pelo Qubes, enquanto o Split SSH precisa de algumas várias modificações, gerando toda essa dor de cabeça.

Configuração

A princípio, a configuração do sistema, dos domínios e dos arquivos é tranquila, mas confusa se for mal organizada, portanto, recomendo seguir passo-a-passo para evitar qualquer esquecimento. Vamos trabalhar em quatro domínios (VMs), na respectiva ordem, são eles:

1. Instalar pacotes e scripts necessários no(s) TemplateVM(s)

TemplateVM

Os TemplateVMs servem de base para a construção dos AppVM, que utilizamos. Sempre que um AppVM/domínio é iniciado e executado os arquivos de configuração e da raiz do sistema são adquiridos do seu template correspondente.

No AppVM são salvas apenas as informações que estão no diretório $HOME do usuário. Por este motivo que é preciso instalar os pacotes e editar arquivos de configuração no template para então utilizá-los nos outros domínios.

No Qubes você optar entre duas imagens de template: fedora e debian.

Este primeiro passo é o mais importante, acho. Demorei muito para descobrir que os pacotes necessários não foram instalados no TemplateVM que utilizo: Fedora 27 , no Qubes 4. Há poucos dias, vi o comentário de @homotopycolimit descrevendo a instalação dos packages e foi então que descobri qual foi o meu erro (depois de muitas horas tentando configurar o Split SSH) .

Portanto, agora, iremos focar apenas no TemplateVM que será utilizado pelos outros VMs. No meu caso, é o fedora-27, mas isso não significa que com outras imagens o mesmo procedimento não dará certo. O importante é instalar os pacotes e arquivos em todos aqueles que você utilizará para o Split SSH, independente da versão do sistema e da imagem utilizada, ok?

Abra o Terminal e instale no template fedora-27 os pacotes nmap-ncat e openssh-askpass, com o comando abaixo:

$ sudo dnf install nmap-ncat openssh-askpass

Se, e somente SE, o template que deseja utilizar for debian, então será preciso instalar três pacotes com nomes diferentes do Fedora. São eles: nmap, netcat e ssh-askpass.

# Para debian, apenas:
$ sudo apt-get install nmap netcat ssh-askpass

Assim quando a instalação for concluída, continue com o Terminal aberto no fedora-27, e crie o arquivo /etc/qubes-rpc/qubes.SshAgent com o seguinte conteúdo:

#!/bin/sh
# Qubes App Split SSH Script
#    for TemplateVM fedora-27
#
notify-send "[`qubesdb-read /name`] SSH agent access from: $QREXEC_REMOTE_DOMAIN"
ncat -U $SSH_AUTH_SOCK

A primeira parte está concluída e a configuração necessária foi realizada no template fedora-27 . Seguimos agora para a segunda parte.

2. Configurar o dom0, o domínio zero

Agora, foquemos apenas no dom0, o domínio zero. Crie e acrescente o seguinte conteúdo, com apenas uma linha, ao arquivo /etc/qubes-rpc/policy/qubes.SshAgent.

$anyvm $anyvm ask

Simples, não!? Pois concluída essa parte, será preciso criar os dois outros VMs restantes (caso ainda não os tenha criado): o ssh-cliente e o ssh-secreto. Essa tarefa pode ser realizada pelo Qubes Manager ou pela linha de comando do dom0 .

Pela linha de comando, continue com o Terminal do dom0 aberto, e execute os seguintes comandos para criar o ssh-cliente utilizando fedora-27 como o TemplateVM.

$ qvm-create -t fedora-27 -l green ssh-cliente

O VM será criado tendo o fedora-27 como TemplateVM, na cor de identificação verde, o sys-firewall como padrão de conexão a Internet, e com o nome que definimos, ssh-cliente .

E, por fim, criemos o ssh-secreto com o comando:

$ qvm-create -t fedora-27 -l black ssh-secreto

E para isolar este domínio da Internet, execute:

$ qvm-prefs -s ssh-secreto netvm none

E pronto! Agora temos todos os domínios criados e prontos para a configuração.

3. Configurando o ssh-secreto

Lembrando que o ssh-secreto armazenará as chaves públicas e privadas, sem conexão de Internet. Assim, crie as chaves neste VM ou copie para cá as chaves que deseja utilizar (as chaves são salvas no diretório ~user/.ssh do domínio ).

Para a configuração, o arquivo necessário é o ~user/.config/autostart/ssh-add.desktop. Se o diretório .config/autostart não existir, aproveite para criar com o comando mkdir -pv ~user/.config/autostart.

O arquivo ~user/.config/autostart/ssh-add.desktop possui o seguinte conteúdo:

[Desktop Entry]
Name=ssh-add
Exec=ssh-add
Type=Application

Ok?

Para que as alterações sejam aplicadas no ssh-secreto , interrompa a execução do ssh-secreto pelo Qubes Manager . E deixe-o assim, parado (sem estar em execução).

4. Configurando o ssh-cliente

E para finalizar a saga da instalação, continuemos com a configuração do VM ssh-cliente , que possui conexão de Rede, e irá se conectar com servidores SSH.

Os arquivos abaixo exigem atenção para a variável SSH_VAULT_VM, pois é quem dirá qual domínio/VM o ssh-agent irá se conectar; ou seja, o nome do domínio destino onde estão alocadas as chaves.

Acrescente o conteúdo abaixo no arquivo /rw/config/rc.local do ssh-cliente . Este script será executado quando o VM for iniciado.

####################
# SPLIT SSH CONFIG
#   para o ssh-cliente VM
#   no arquivo /rw/config/rc.local
#
# Uncomment next line to enable ssh agent forwarding to the named VM
SSH_VAULT_VM="ssh-secreto"

if [ "$SSH_VAULT_VM" != "" ]; then
	export SSH_SOCK=~user/.SSH_AGENT_$SSH_VAULT_VM
	rm -f "$SSH_SOCK"
	sudo -u user /bin/sh -c "umask 177 && ncat -k -l -U '$SSH_SOCK' -c 'qrexec-client-vm $SSH_VAULT_VM qubes.SshAgent' &"
fi

Para torná-lo hábil para a executação, defina a permissão apropriada para o arquivo através do comando:

$ sudo chmod +x /rw/config/rc.local

O último a ser acrescido na configuração do ssh-cliente é o código abaixo. Este deve ser adicionado no final do arquivo ~user/.bashrc.

#####################
# SPLIT SSH CONFIG
#   para o ssh-cliente VM
#
# Append this to ~/.bashrc for ssh-vault functionality
# Set next line to the ssh key vault you want to use
SSH_VAULT_VM="ssh-secreto"

if [ "$SSH_VAULT_VM" != "" ]; then
	export SSH_AUTH_SOCK=~user/.SSH_AGENT_$SSH_VAULT_VM
fi

E pronto. A configuração está finalizada.

Para que as alterações sejam aplicadas no ssh-cliente , faça o mesmo procedimento do domínio anterior: interrompa a execução do ssh-cliente pelo Qubes Manager ou pela linha de comando. E deixe-o assim, parado (sem estar em execução). A tarefa pode ser feita também pelo Terminal do dom0:

$ qvm-shutdown ssh-cliente
$ qvm-shutdown ssh-secreto

Conclusão e testes

A configuração do sistema operacional e dos domínios foi finalizada.

O Split-SSH está pronto para ser utilizado no Qubes permitindo o acesso a servidores utilizando diferentes chaves, isoladas e seguras de um ambiente não-muito-confiável.

Teste e certifique-se agora, se tudo funciona.

1. Primeiro, inicie o domínio ssh-secreto

Assim que o domínio for iniciado, abra o Terminal neste VM; o comando openssh-askpass solicitará as senhas das chaves que estão instaladas no diretório ~user/.ssh; digite-as quando solicitadas.

Para verificarmos se o ssh-agent está rodando no ssh-secreto, execute:

$ eval `ssh-agent -s`
# Retorno: Agent pid 000000

2. Inicie o domínio ssh-cliente

Abra o Terminal no ssh-cliente para checar se o ssh-agent também está rodando:

$ eval `ssh-agent -s`
# Retorno: Agent pid 00000

3. Testando a conexão entre domínios

Com os dois VMs em execução, digite o comando abaixo no ssh-cliente para testar a comunicação interVMs. Se as regras no dom0 foram inseridas corretamente, surgirá uma janela requisitando autorização para acesso ao ssh-secreto.

$ ssh-add -L

O comando deverá listar as chaves instaladas no ssh-secreto. Para finalizar, conecte-se a algum servidor SSH e verifique se o programa funcionará como previsto.

4. Erros?

Se não funcionar como previsto, tente algumas das soluções abaixo.

Encontrou algum outro bug? Comente!

E fim! ;-)

Notas de rodapé

  1. Documentação oficial sobre Split GPG em https://www.qubes-os.org/doc/split-gpg/ ↩︎

  2. Em tradução descomprometida feita por mim do parágrafo:
    "Split GPG implements a concept similar to having a smart card with your private GPG keys, except that the role of the “smart card” plays another Qubes AppVM. This way one, not-so-trusted domain, e.g. the one where Thunderbird is running, can delegate all crypto operations, such as encryption/decryption and signing to another, more trusted, network-isolated, domain. This way the compromise of your domain where Thunderbird or another client app is running arguably a not-so-unthinkable scenario does not allow the attacker to automatically also steal all your keys. (We should make a rather obvious comment here that the so-often-used passphrases on private keys are pretty meaningless because the attacker can easily set up a simple backdoor which would wait until the user enters the passphrase and steal the key then.)". Disponível na documentação oficial do Qubes, em https://www.qubes-os.org/doc/split-gpg/ ↩︎

  3. Disponível em https://github.com/henn/qubes-app-split-ssh ↩︎

  4. Em tradução do parágrafo: "This is done by using Qubes's qrexec framework to connect a local SSH Agent socket from an AppVM to the SSH Agent socket within the ssh-vault VM.". Disponível na introdução do projeto qubes-app-split-ssh . ↩︎

Denis Zanin, 37, é programador e jornalista, especializado em segurança, jornalismo digital e privacidade na Internet. Literatura, cinema e fotografia estão também entre seus escritos favoritos.

Ver comentários